Uma conversa fiada é uma maneira comum de passar o tempo ou matar um silêncio constrangedor.
Agora, um grupo de psicólogos evolucionistas estão sugerindo que esses diálogos bobos são uma ferramenta de vínculo social transmitida através da evolução.
Essa afirmação vem de um estudo com primatas sociais: a pesquisa descobriu que eles utilizam vocalizações de forma mais seletiva do que pensávamos.
Trocas vocais
Lêmures-de-cauda-anelada (Lemur catta) vivem em grupos sociais e respondem primeiramente aos chamados dos indivíduos com os quais mantêm relações mais estreitas.
Enquanto o acariciamento é uma experiência de vínculo social comum entre lêmures e outros primatas, os pesquisadores descobriram que esses animais reservam suas trocas vocais somente aos animais com quem se acariciam com mais frequência.
Manter contato
Lêmures vocalizam para se manter em contato quando os membros do grupo estão separados, por exemplo, em busca de alimento.
“Nossos resultados indicam que, quando os animais respondem a vocalizações, eles estão trabalhando também na manutenção de seus laços sociais”, disse Ipek Kulahci, doutor em ecologia e biologia evolutiva da Universidade de Princeton, EUA, e principal autor do estudo.
Através da troca de vocalizações, os animais reforçam seus laços mesmo quando estão longe um do outro. Esta seletividade é quase equivalente à forma como os seres humanos se mantêm em contato regular com amigos próximos e familiares, mas não com todos que conhecem.
Evolução do discurso
Os resultados podem ter implicações na forma como os cientistas compreendem a evolução das vocalizações primatas e do discurso humano.
Algumas hipóteses existentes sobre a evolução da linguagem sugerem que as trocas vocais entre os primatas evoluíram com o tamanho do grupo. Quando há muita gente, acariciar para formar laços sociais é muito demorado. Já o discurso economiza tempo, enquanto continua a expressar familiaridade.
No entanto, na nova pesquisa, as vocalizações ocorreram independentemente do tamanho do grupo. Estes resultados mostram uma conexão direta entre acariciamento – ou familiaridade – e vocalização que não havia sido encontrada antes.
Os pesquisadores acreditam que conversar, mesmo que casualmente, é uma ferramenta evolutiva para o estabelecimento de proximidade.
A conversa é mais profunda que o toque
Os pesquisadores estudaram as interações vocais e as redes de acariciamento de vários grupos de lêmures.
Os carinhos só eram trocados entre certos indivíduos. Vocalizações eram ainda mais seletivas – os animais só respondiam aos chamados daqueles com quem se acariciavam bastante.
Os pesquisadores gravaram as vocalizações individuais e tocaram para o grupo. Apenas os lêmures que compartilhavam uma relação estreita com o indivíduo que emitiu a chamada responderam, mesmo se o lêmure chamando não estivesse por perto.
Isso sublinha que fortes laços sociais são indicados por trocas vocais, uma vez que o lêmure vocalizando não podia ser visto ou cheirado pelo animal que respondeu.
O uso das duas interações em conjunto para estabelecer maiores níveis de familiaridade pode ajudar os cientistas a entender como as formas de comunicação estão inter-relacionadas. Como lêmures, seres humanos também interagem usando várias ações verbais e físicas complementares e contextuais.
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