Cristais de Naica: os organismos foram encontrados dentro dessas estruturas
(Alexander Van Driessche/Wikimedia Commons)
Os microorganismos, jamais vistos no nosso planeta, foram encontrados no
México. A descoberta pode ajudar na busca por vida em outros planetas
São Paulo – Cientistas fizeram uma descoberta na Terra que pode
influenciar a busca por vida em outros planetas. Eles encontraram
microrganismos, jamais vistos no nosso astro, escondidos dentro de
cristais gigantes nas cavernas de Naica em Chihuahua, México.
Essas criaturas ficaram “adormecidas” nessas formações cristalinas por
mais de 10 mil anos – a previsão é que esse período possa ser de até 50
mil anos de “hibernação”. O que impressiona, no entanto, é que os
pesquisadores conseguiram extrair e reviver os micróbios.
Para Penélope Boston, diretora do Instituto de Astrobiologia da Nasa, a
descoberta revela que a vida microbiana na Terra pode suportar condições
que antes eram inimagináveis. “Isso tem efeitos profundos sobre como
tentamos entender a história evolutiva da vida microbiana neste
planeta”, disse em reunião da Associação Americana para o Avanço da
Ciência (AAAS), onde a novidade foi divulgada, de acordo com a revista
National Geographic.
Além disso, para a diretora, os micróbios causam preocupação com relação
aos esforços da Nasa em explorar a vida em outros lugares do universo.
Apesar de a agência espacial esterilizar as naves espaciais, há sempre o
risco de uma dessas criaturas pegarem carona em uma missão. “Como
podemos garantir que as missões de detecção de vida vão encontrar a
verdadeira vida de Marte ou a vida de mundos gelados em vez da nossa
vida?”
Segundo a astrobióloga, o elo entre os micróbios e a busca por vida
extraterrestre é óbvio. “Qualquer sistema extremófilo [organismo que
sobrevive em condições geoquímicas extremas] que estejamos estudando nos
permite ir além no conhecimento sobre a vida na Terra”, explica. “Por
isso, nós incluímos isso [a pesquisa] no rol de possibilidades que
podemos aplicar em diferentes configurações planetárias.”
As cavernas
As cavernas de Naica já eram conhecidas pelos cientistas devido às
condições de temperatura do ambiente. O local é extremamente úmido e
quente, variando entre 40°C e 60°C. Além disso, não há luz nas cavernas,
o que faz com que os organismos que vivem ali precisem realizar
quimiossíntese – a extração de energia a partir da oxidação dos minerais
– para sobreviverem.
Muitos cientistas acreditam que locais como as cavernas de Naica possam
existir em outros planetas. Assim, seria possível encontrar vida na
parte subterrânea desses astros. Já foram encontrados micróbios vivendo
nas cavernas de Naica. Contudo, é a primeira vez que um grupo de
pesquisadores consegue extrair organismos de cristais – foi preciso mais
de oito anos de pesquisa para chegar ao resultado.
Boston afirma que a equipe tomou todas as precauções para evitar a
contaminação do local. Segundo ela, todos usaram uniformes de proteção e
as brocas e superfícies dos cristais foram esterilizadas com peróxido
de hidrogênio.
“Nós também fizemos o trabalho genético e cultivamos os organismos das
cavernas que estão vivos agora e expostos, e vimos que alguns desses
micróbios são semelhantes, mas não idênticos aos das inclusões fluidas”,
disse Boston. Desse modo, ela está confiante que os micróbios realmente
nasceram no cristal e não foram introduzidos na caverna.
Futuro das escavações
Boston disse na reunião que um estudo sobre a descoberta está em
processo de produção. Isso significa que a pesquisa ainda não passou
pela revisão por pares, um procedimento padrão na verificação de uma
novidade científica.
A astrobióloga da Nasa contou que escavações na caverna de Naica não
poderão ser mais feitas. Isso porque, o complexo onde ficavam os
cristais inundou após uma recente interrupção dos trabalhos de
mineração.
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